quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Mata Atlântica está desaparecendo diante de nossos olhos

Cachoeira com 80 metros no rio Lageado, afluente do rio Itajaí, Localidade de Bley Pombas, Santa Terezinha (SC). Para acessá-la em 19/01/1991 tivemos que atravessar uma mata preservada tão extensa que levou quase um dia inteiro de caminhada.

Já me acostumei com a decepção de voltar a algum lugar de natureza exuberante que conheci na infância e encontrar tudo devastado. A riquíssima diversidade de formas de vida da Mata Atlântica, de centenas de espécies de árvores, com algazarras de aves das mais variadas espécies, tudo silenciado e substituído pela monotonia de um reflorestamento de pinus ou eucalipto.

As raras vezes que sou surpreendido ao retornar e ainda encontrar uma mata preservada tal como conheci quando era criança, eu passo a me empenhar para protegê-la, porque já sei o destino trágico daquele pedaço do paraíso da floresta tropical repleta de formas de vida. Foi desta forma que minha esposa e eu salvamos os atuais 856 hectares de Mata Atlântica, nas cabeceiras do rio Itajaí, em Itaiópolis (SC), com a criação de várias RPPNs no mesmo local.

Durante meu período de férias, no dia 19/01/1991, eu levei a Elza para uma aventura de chegar até uma cachoeira de 80 metros no rio Lageado, na localidade de Bley Pombas, em Santa Terezinha (SC). Eu conhecia desde criança a extensa mata preservada onde ficava esta cachoeira que era emblemática para mim porque poucos haviam conseguido chegar até ela.

Eu não era mais criança e havia chegado minha vez de apreciar a beleza desta cachoeira e ficar encantado com ela. A Elza topou na hora o desafio, porque não fazia idéia da dificuldade para chegar até lá. Ao chegarmos a localidade, fiquei muito assustado ao ver o tamanho da devastação ocorrida em Santa Terezinha, mas me animei um pouco ao ver que o extenso fragmento de mata preservada, a partir da estrada até o rio Itajaí, onde se situava a cachoeira, por sorte, havia sido poupado.

Após caminharmos por dentro da mata durante várias horas, usando os cursos dos rios como orientação, finalmente chegamos à cachoeira. Os momentos que passamos lá compensaram o esforço. Nós acampamos duas noites no paraíso, onde passamos momentos mágicos, apreciando e contemplando toda aquela exuberância de biodiversidade da floresta tropical.

Naquela época, eu estava completamente iludido e por ingenuidade acreditava que o código florestal e as leis proibindo o desmatamento da Mata Atlântica eram as armas poderosas que garantiram a proteção daquele paraíso. Qualquer tentativa do proprietário em destruir esta área as autoridades vão autuá-lo – pensei. Era uma das últimas matas preservadas na região. Ninguém se atreveria de desafiar as leis e, além disso, estávamos às vésperas da Rio-92, com o Brasil empenhado cada vez mais em fazer bonito perante a comunidade internacional.

Nesta semana, estava selecionando algumas imagens da flora da Mata Atlântica e deparei com algumas fotos que tirei do entorno da RPPN Corredeiras do Rio Itajaí, no dia 06/02/2005, registradas com uma filmadora digital, que já tinha o recurso de tirar fotos, mas de baixa resolução. As imagens são do vale do rio Lageado, que desemboca no rio Itajaí, em frente da RPPN. Foram tiradas assim que compramos a primeira área, com 31 hectares, a partir do ponto mais alta da RPPN, que hoje tem 856 hectares. Nessa época eu não estava muito familiarizado com a geografia do lugar.





As duas imagens monstram a situação em 06/02/2005. A mata preservada que em 1991 levamos quase um dia todo para atravessar e acessar a cachoeira deu lugar a uma extensa plantação de pinus.

Fiquei chocado ao identificar nestas imagens a cachoeira e toda a mata do entorno que levamos horas para percorrer em 1991 ter sido substituída por pinus. Reparem que plantaram pinus até em cima da cachoeira. São imagens de 7 anos atrás e certamente a devastação foi ampliada. Lamento profundamente de ter me descuidado e não ter conseguido salvar aquela área. Na verdade, não foi um descuido e tampouco falta de empenho, porque a devastação é intensa por todos os lugares e eu estava enfrentando batalhas duras e extenuantes para salvar a Mata Atlântica em outras regiões, inclusive ali perto. Eu achava que iria dar tempo de chegar até lá com força total mas, infelizmente, não deu.

Mesmo assim, por mais desculpas que se consiga arranjar, não me sinto confortado. Estou muito aborrecido e desapontado comigo mesmo por não ter conseguido convencer mais pessoas da urgência e gravidade da situação. Começamos a nos preocupar mais seriamente em salvar a Mata Atlãntica só em 1997, início do nosso projeto de Educação Ambiental. A criação da ONG, Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade, só ocorreu em 2003.

A biodiversidade que existia nesta área se foi para sempre. Eu cheguei a colocar os pés nesta mata já com a plena consciência de que era extremamente importante salvá-la para as gerações futuras. O mais desesperador de tudo é que esta não foi a última área a ser destruída. Qualquer fragmento de Mata Atlântica está com os dias contados e a destruição ocorre diante de nossos olhos.